terça-feira, 25 de novembro de 2008

DAS ENDE - A queda do III Reich! (entrevista veja com Winston Spencer Churchill)

Aclamado pelo mundo democrático, o grande condutor da campanha militar que derrotou Hitler e o nazismo divide os louros da vitória e afirma que êxito é de cada um que agüentou privações, resistiu a ataques e ajudou a ganhar a guerra. 'Mas não se pode esquecer do Japão, que ainda está insubordinado.'

Foram seis anos de sangue, suor, labuta e lágrimas, mas o buldogue enfim devorou o lobo. A fera britânica jamais se convenceu com o disfarce de cordeiro da besta nazista - tanto que, contrariando o próprio partido, defendeu um enfrentamento com Adolf Hitler enquanto políticos do Ocidente só falavam em apaziguamento. Depois, quando os caninos afiados do ditador alemão morderam meia Polônia, foi a hora de voltar ao Almirantado, ajudando a azeitar a máquina de guerra britânica, e finalmente assumir o leme, alguns meses depois, ocupando o posto de primeiro-ministro no lugar de Neville Chamberlain, o manso gatinho que caíra na armadilha nazista. Winston Spencer Churchill foi, de fato, o grande timoneiro da épica jornada encerrada neste mês em Berlim. "A vitória é de vocês", discursou, modesto, no último dia 8, na sacada do Ministério da Saúde, em Londres. "Não, é sua!", rebateu a multidão, em um forte coro, reconhecendo a vital importância do líder para o triunfo aliado. Churchill, dono de vigor impressionante para seus agitados 70 anos de vida, sorriu e fez o "V" da vitória com a mão direita. Mas o champanhe Pol Roger, seu favorito, ficou no balde de gelo - e seus projetos pendentes, como voltar a pintar e concluir os quatro volumes de História dos Povos de Língua Inglesa, continuaram na gaveta. No dia seguinte, Churchill já estava de volta ao ringue, vestindo as luvas para ajudar a nocautear o Japão. Nesta entrevista, ele avisa: só ficará satisfeito quando o império nipônico estiver de joelhos. "Devemos devotar toda a nossa força e todos os nossos recursos ao cumprimento dessa tarefa."

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VEJA - A derrota da Alemanha é motivo de orgulho e celebração para todos os Aliados, mas a Grã-Bretanha foi o único país a combater Hitler do início ao fim do conflito. A queda do Terceiro Reich tem um gosto especial para os britânicos?

Churchill - Penso que não. Declaramos guerra logo depois da ilegal agressão alemã. Depois da derrocada da França, sustentamos a luta sozinhos por um ano inteiro antes que o poderio militar da União Soviética se juntasse a nós. Então chegou a impressionante força dos Estados Unidos. Mas depois, finalmente, o mundo quase inteiro uniu-se contra os malfeitores, e agora eles estão prostrados diante de nós. A gratidão parte de todos os corações desta ilha e de todo o Império Britânico para todos os nossos esplêndidos aliados.

VEJA - Quando o senhor e os outros líderes aliados declararam o fim da guerra na Europa, os alemães ainda lutavam em alguns pontos do país. A comemoração foi precoce?

Churchill - De forma alguma. Não seria surpresa que num front tão extenso e entre tamanha desordem dos inimigos as ordens do alto comando alemão não chegassem e fossem obedecidas imediatamente. Na minha opinião, depois de ouvir os melhores conselhos militares disponíveis, não havia qualquer motivo para ocultar as informações transmitidas pelo general Dwight Eisenhower sobre a rendição alemã, nem para adiar as comemorações do Dia da Vitória na Europa.

VEJA - O senhor foi o grande adversário de Hitler nesta guerra. Considera a derrota de seu antagonista uma vitória pessoal?

Churchill - Veja bem, esta vitória é de todos os britânicos. É também a vitória da causa da liberdade em todo o planeta. Em toda a nossa longa história jamais vimos um dia tão glorioso quanto o dia da vitória contra o nazismo. E todos os homens e mulheres fizeram o seu melhor. Todos tentaram. Nem mesmo os longos anos, nem os perigos, nem os ferozes ataques do inimigo enfraqueceram de qualquer forma a convicção independente da nação britânica. Que Deus abençoe a todos por isso.

VEJA - Mas os triunfos do governo sob seu comando não foram suficientes para impedir manifestações contrárias da oposição no Parlamento durante a guerra.

Churchill - Todos nós podemos cometer erros. Mas a força da instituição parlamentar garantiu ao mesmo tempo a manutenção das bases da democracia e o esforço de guerra em sua forma mais firme e prolongada. Já expressei minha profunda gratidão à Câmara dos Comuns, que provou no curso da guerra ser a mais forte fundação já vista em toda a nossa história. Agradeço a todos os integrantes de todos os partidos pela vivacidade com que a instituição parlamentar foi mantida sob o fogo do inimigo, e pela perseverança sustentada até que todos os objetivos fossem alcançados.

VEJA - Por falar em perseverança, os britânicos agüentaram seis anos de privações e sofrimento nesta guerra. Há algum tipo de ressentimento pela falta de apoio das outras nações no início da luta?

Churchill - Não, porque fomos capazes de mostrar todo o nosso valor. Fomos os primeiros a erguer a espada contra a tirania. Depois de pouco tempo, estávamos lutando sozinhos contra a mais tremenda potência militar já vista. Ficamos sozinhos por um ano inteiro. Lá estávamos, sem ninguém. Alguém pensou em desistir? Não. Alguém se desanimou? Não. As luzes se apagaram e as bombas caíram. Mas todos os homens, mulheres e crianças do país nem sequer pensaram em fugir da luta. Londres soube suportar tudo. Depois de alguns meses, saímos das mandíbulas da morte e fugimos da boca do inferno enquanto o mundo todo se perguntava: quando a reputação e a fé desta geração de britânicos falhará?

VEJA - E qual será a herança desta geração de britânicos para seus descendentes?

Churchill - Nos longos anos que vêm pela frente, ela influenciará não apenas para o povo desta ilha, mas também todo o mundo. Sempre que o canto da liberdade ecoar nos corações humanos, as pessoas verão o que fizemos e dirão: "Não se desesperem, não se curvem à violência e tirania, marchem sempre adiante e morram se assim for preciso, mas jamais sejam conquistados". Temos um terrível opositor caído ao chão, esperando nosso julgamento e nossa misericórdia. Bem, mas ainda há outro opositor ocupando grandes porções do Império Britânico, um opositor cheio de crueldade e ganância.

VEJA - O senhor fala, é claro, dos japoneses.

Churchill - Correto. Podemos nos permitir um breve período de deleite, mas não devemos nos esquecer em momento algum da labuta que ainda está pela frente. O Japão, com sua traição e egoísmo, continua insubordinado. A injúria que ele infligiu na Grã-Bretanha, Estados Unidos e outros países e suas detestáveis crueldades pedem justiça e retribuição. Devemos agora devotar toda a nossa força e todos os nossos recursos ao cumprimento de nossa tarefa, tanto dentro de casa como fora.

VEJA - Enquanto isso, o senhor enfrentará outra batalha: reerguer seu país.

Churchill - É verdade. Precisamos começar o trabalho de reconstrução de nossas casas, fazendo o máximo para tornar esse país uma terra em que todos tenham uma chance, em que todos tenham uma missão. E devemos nos dedicar a cumprir a obrigação que ainda temos com nossos próprios compatriotas e com nossos bravos aliados americanos. Caminharemos de mãos dadas com eles. Mesmo que enfrentarmos a mais árdua luta, não seremos nós que
falharemos.

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